M (muito) A (além) de E (estereótipos)
Fui mãe aos 10, quando foi entregue a mim a responsabilidade de cuidar durante todas as tardes, de uma irmã de 4, dando-lhe comida, conforto, segurança e companhia. (Fingia não sentir medo daquelas horas vazias e solitárias, talvez pelo instinto de querer fazê-la mais forte do que eu)
Fui mãe aos 13, de uma senhorinha - vizinha que morava só e tinha medo de morrer durante a noite!! - A mim foi dada a obrigação de acalentar seus sonhos (sei lá... a vida, isso deve ter me feito mais forte do que ela - por ela. Só sei que foram muitos e longos breus).
Fui mãe aos 16, quando foi entregue a mim a responsabilidade de cuidar de uma irmã temporã, trocando-lhe as fraldas e mamadeiras durante o dia, e ninando seu berço todas as noites ao chegar da escola, das 24h00 às 03h00 da madruga...
Fui mãe aos 22, em algumas alegres noites quando a mim era permitido retribuir a gratidão ao casal de amigos que me recebeu tão bem, oferecendo-lhes um vale-descanso, por algumas horas. (dançava Chopin com Ariel, e me perguntava se um dia ele se lembraria disso...)
Fui mãe aos 25, quando me vi cercada de três novos integrantes numa jornada ainda sem rumo certo, sem coordenadas, sem mapa. De certo uma viagem que poderia ter tido tantas aventuras, se os rótulos não tivessem aquela cola pegajosa que acabam por “melecar” tudo: mãos, pés, bocas, olhares e julgamentos...
Com certeza o passageiro que desembarcava a cada 15 dias, pequenino, se lambuzava com meus hambúrgueres de alguns andares: ovo, carne, folhas, pão e o que mais ele quisesse e quantos mais ele quisesse!!! E ele queria!! Acompanhados de War – A Guerra Infinita!! Ou outros jogos de tabuleiro!
E ainda aos 25 iniciei gestação e fui mãe de tantas e tantos: sonhos, planos, personagens, clowns, seres em busca de si! – Produzir um ambiente com comida gostosa, com olhar, presença, para que cada um ali - se avessasse sim - mas envoltos em colo, era compromisso certo.
Lá pelos 30 e poucos, me tornei Avó!! Voei longe pra ver e logo chegaram mais – dois “Bichinhos” que me invadiram de tal maneira, se acomodaram por aqui, por ali, por todo lugar de mim. E ainda tem um que sei, nem sabe de mim, mas dele, eu sim. E outros mais...
Nesses anos, nesses “lugares” vivi amplitude, calma, ansiedade, insegurança, temor, alegria, e tantas outras sensações, que de tanto: me extrapolam, me vazam...me expandem!
E ainda bem lá atrás.... aos 7... me tornei filha de uma mulher que nunca tinha me visto antes, e abriu seus braços, me recebendo completamente sem nunca ter me parido. E que preencheu meu coração com uma suavidade que me salvou, bem sei.
Portanto, Ser MÃE – Senhores – é para tantos quantos o queiram...
A maternidade contém aconchego, calor, altruísmo, dedicação, compreensão, alerta, cuidado, entrega, abnegações, abdicações, anseios, escuta, conselho, silêncio e riso, cócegas, beijos, “Sims” e “Nãos”. Ir além do que se pode em meio a uma gripe, uma dor; Estar além do que se pode, um minutinho a mais pra compensar a ausência.
Maternidade é colo, é inclusão, é energia, força e fragilidade. E, para ser MÃE – Senhores – basta abrirmos nossos corações, sejamos nós: Mulheres ou Homens; casades ou solteires; jovens ou velhes; homo ou héteros; cis ou trans; Com ou sem Barriga. Entranhas rasgadas ou não. Para ser MÃE, é preciso apenas SER.
Fora isso: o que se obriga, o que se exige, o que se aponta, o que se julga, é tão somente o velho método constrangedor e mutilador de um sistema perverso e assassino, que transforma vidas em cobaias, em servas, em meras operárias da Ordem Patriarcal - minando suas habilidades e potencialidades.
Que possamos cada vez mais, viver e Ser M.A.E – Muito Além de Estereótipos.
Por Vanderli Santos